Imagina esta situação: alguém te bate à porta e propõe comprar a tua casa por metade do preço que pagaste por ela. O que é que respondes? Provavelmente mandas a pessoa dar uma volta, certo?
Se esta resposta é tão simples, porque é que complicamos como se trata de outros ativos? Neste artigo vamos falar sobre isso.
O comportamento dos mercados
No cenário que partilhei acima, aposto que a tua resposta foi muito simples e rápida e optaste por mandar esse comprador embora, certo? Na verdade, nem é preciso pensar muito: se compraste algo por 100 e agora alguém te quer comprar o mesmo por 50, e assumindo que não precisas do dinheiro, então porque hás-de vender?
No entanto se alguém bater à porta e oferecer 150 talvez já ponderes vender porque pode ser um bom negócio para ti, certo?
Os mercados financeiros, aqueles onde são transacionadas as ações, ETF's, obrigações e outros produtos do género, comportam-se como se fossem pessoas a bater à tua porta e a oferecer-te, todos os dias, um preço diferente pelos teus ativos. Os mercados sobem e descem com base numa simples lei de oferta e procura que é influenciada pela confiança dos investidores. Isto significa que, nos mercados financeiros, hoje os teus ativos valem 100, amanhã valem 95 e no dia seguinte podem valer 110.
O facto de todos os dias haver um preço diferente para os teus ativos é diferente do facto de os teus ativos realmente tenham um valor maior ou menor, entendes? Simplesmente o mercado está disposto a pagar-te mais ou menos pelos teus ativos.
A ilusão das menos-valias (e das mais-valias, também)
Quando temos a nossa corretora à frente e vemos os preços a subir e a descer é fácil cairmos na armadilha de dizermos que estamos "a perder dinheiro" ou "a ganhar dinheiro". Isso é, na verdade, uma enorme ilusão. Essas perdas ou ganhos apenas acontecem quando tomamos a decisão de efetivamente vender o nosso ativo. Aí sim, podemos, e devemos, fazer contas e perceber como correu o investimento.
Lembras-te do exemplo inicial? Se compraste a casa por 100 e agora alguém quer comprar por 50, tu vais dizer que estás a perder 50? Provavelmente nem por isso! Apenas vais dizer algo do género "apareceu-me aí um maluco à porta a oferecer-me 50 pela minha casa". Ris-te da situação ao jantar e segues em frente com a tua vida.
Nos outros ativos é exatamente igual: apenas vais realmente perder ou ganhar dinheiro quando optares por carregar naquele botão que diz "vender". Até lá é apenas um número na tua corretora ou no teu Excel que vale muito pouco
O que deves fazer?
Há quem tenha a abordagem de fazer os seus investimentos e nunca mais olhar para eles, para fugir à tentação de vender numa altura errada. A meu ver, isso é um mau princípio.
Na minha opinião, devemos controlar regularmente os nossos investimentos. Eu faço-o todos os dias porque gosto de saber como estão a correr e até para planear eventuais futuros reforços em algum dos produtos que tenha. No entanto, sabermos qual o preço que o mercado lhes dá hoje, por si, não influencia em nada as minhas decisões.
Na verdade, e se estivermos realmente confiantes que fizemos um bom investimento, devemos aproveitar esses momentos de quebra de preço para reforçar a nossa participação nesse mesmo produto. Imagina: fazes a tua análise e investes no produto X a 10€/unidade porque acreditas que ele vai valorizar para 15€/unidade, por exemplo. Então se o preço baixar para 8€/unidade o que deves fazer? Comprar mais! O teu lucro potencial ao início eram 5€ por unidade e agora serão 7€/unidade, assumindo que continuas confiante que o preço vai até aos 15€, e que o investimento faz sentido para ti.
Conclusão
A mensagem que quero passar é simples: nunca vendas os teus investimentos, sejam eles quais forem apenas e só porque o preço baixou. Claro que deves aproveitar esse momento para refletir se o investimento ainda faz sentido ou não mas nunca te esqueças que só perdes dinheiro quando carregas no botão "vender". Até lá é tudo ficção, como dizem no filme "O Lobo de Wall Street", é tudo fugazi.
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