Gostavas de poder deixar de trabalhar e assim dedicares-te aquilo que realmente queres fazer da tua vida, seja lá isso o que for? Então este artigo vai interessar-te!
Vamos então falar sobre o famoso FIRE, que talvez já tenhas ouvido, e as 3 principais versões que, na minha opinião, existem.
O que é FIRE?
Esta é uma sigla para abreviar Financial Independence, Retire Early. Na versão portuguesa, seria qualquer coisa como IFRA - Independência Financeira, Reforma Antecipada. Vamos ser honestos: IFRA é bastante menos apelativo que FIRE, por isso vamos continuar a usar a versão inglesa do tema.
Atingir o FIRE, significa atingir a independência financeira, ou seja, estás num ponto em que, se quiseres, podes deixar de trabalhar e os ativos que tens (que até podem nem ser dinheiro, mas já lá vamos) são suficientes para suportar o estilo de vida que pretendes ter. Parece-te algo de incrível, certo? Apesar de tradicionalmente apenas se falar de uma forma de lá chegar, eu acho que existem, na verdade, duas:
Aquilo que gosto de chamar acumulação. Esta é a versão tradicional. Significa que conseguiste amealhar uma quantidade de dinheiro que é suficiente para viveres para o resto da vida, retirando mensalmente ou anualmente a quantidade que precisas para suportar os teus gastos. Atenção que há uma variável importante: assume-se que o teu dinheiro está investido em algo o que significa que não tens que ter exatamente o valor total das despesas do resto da tua vida. Já vamos detalhar mais isto.
O que chamo de cash-flow. Neste modelo, o que interessa não é a quantidade de dinheiro ou ativos que tens mas sim, o rendimento gerado por eles. Exemplo simples: se queres ter 1.000€ por mês e tens 2 casas arrendadas que te rendem (já depois de custos e impostos) 1.000€ por mês, aí está a tua independência financeira. A isto chama-se rendimento passivo.
Os tipos de Independência Financeira
Agora que já sabes, de uma forma, genérica o que é isto do FIRE, vamos entrar no detalhe e vou explicar-te aquelas que são, na minha opinião, as 3 versões do FIRE:
Full ou Fat FIRE
Esta é a versão "tudo à grande", ou seja, é aquela em que o teu ativo acumulado ou o cash-flow que tens dos teus investimentos é suficiente para cobrir todo o estilo de vida que queres. Claro que se quiseres uma vida mais modesta, vais precisar de um valor e se quiseres uma vida de luxo, o teu valor objetivo é completamente diferente. Então e que valor é este que precisas? Vamos voltar aos 2 métodos:
No método de acumulação, o habitual é falar-se em 25 vezes as tuas despesas anuais. Isto significa que se o estilo de vida que queres ter custar 10.000€/ano, vais precisar de acumular 250.000€ e se quiseres ter 50.000€/ano, vais ter de apontar para 1.250.000€. E porquê 25 vezes? Porque se assume que terás o teu dinheiro investido a uma taxa de, pelo menos, 4%/ano, e 4 x 25 = 100. Vamos agarrar no exemplo mais modesto dos 250.000€ acumulados. Se tiveres os 4% de retorno, tens os teus 10.000€ anuais, e os 250.000€ continuam intocados. Nos anos em que os teus investimentos excederem esta rentabilidade o valor aumenta e nos anos mais fracos de rentabilidade, o valor reduz. A expectativa é que, na média, a rentabilidade ande nestes 4% para que o valor total fique na mesma. No entanto, mesmo que não fique, tens 25 anos de despesas acumuladas em capital, por isso a tua margem de segurança é bastante confortável.
No método de cash-flow, deves ter investimentos cujo rendimento cubra os teus gastos anuais. Aqui deves ter atenção que estamos a falar apenas de produtos que gerem rendimento (juros, dividendos, rendas de imóveis, etc) e é esse o valor que usas para fazer face às tuas despesas. Visto que este método de cash-flow é uma "invenção" minha, aqui não existe um valor objetivo definido claramente. No entanto, recomendo que guardes uma margem de segurança muito confortável para fazer face a imprevistos.
Lean FIRE
O conceito é exatamente o mesmo mas o que difere é o valor de objetivo, já que aqui se considera que vais apontar apenas para as tuas necessidades básicas (renda, alimentação, contas, etc.)
Esta versão do FIRE aplica-se a quem se vê a viver uma vida modesta e apenas com o essencial, mas passando a ter o tempo livre para fazer o que quiser. A forma de cálculo é exatamente a mesma que mostrei há pouco (tanto para acumulação como cash-flow) e a única diferença é o valor. Se daqueles 10.000€/ano que querias, apenas 7.000€ são essenciais, então o modo Lean FIRE diz-te que deves acumular não os 250.000€ mas 175.000€, ou então ter rendimento passivo que gere, pelo menos, os 7.000€/anuais.
Barista FIRE
Em terceiro e último lugar, aquele que, talvez, esteja ao alcance e nos planos de mais pessoas, e que se chama habitualmente de Barista FIRE.
Este modelo é algo híbrido já que pode não significar que sejas 100% financeiramente independente. Nesta versão, pressupõe-se que manténs algum trabalho que gostes e que pode funcionar, essencialmente de duas formas:
Manténs este trabalho constantemente para suportar as tuas despesas extra regulares. Imagina isto como um adicional ao Lean FIRE;
Arranjas estes trabalhos pontualmente para fazer face a algo que queiras. Neste caso, por exemplo, estás em Lean FIRE mas queres fazer uma viagem que custa 2.000€, e então arranjas um trabalho em part-time que te pague 500€/mês, estás lá 4 meses, poupas esse dinheiro todo e despedes-te. Voltas a repetir sempre que for necessário.
Porque é que digo que este modelo é, provavelmente, aquele que faz mais sentido e que até será o objetivo de muitas pessoas? Em primeiro lugar, liberta-te da obrigação de trabalhar num sítio que não gostes, em tarefas que não gostas porque o dinheiro que tens acumulado é uma almofada de segurança confortável para que não te falte o essencial. Em segundo lugar, e talvez mais importante, dá-te tempo para te dedicares a trabalhos que realmente gostes sem a pressão do ordenado ser suficiente para pagar as tuas contas. Até podes, por exemplo, transformar a tua paixão num negócio próprio e trazer daí um rendimento adicional ao mesmo tempo que te sentes realizado(a) com aquilo que estás a fazer. Faz sentido?
A conclusão
A questão da independência financeira pode parecer, à primeira vista, algo de inatingível e se pensas que é isso então lanço-te um desafio: faz contas. Simula a vida que queres ter e percebe como podes lá chegar. Olha para o teu orçamento pessoal, ajusta as tuas despesas, trata de aumentar os teus rendimentos e começa a dar os primeiros passos nesse caminho.
O caminho não vai ser curto nem vai ser fácil. Isto vai exigir muita paciência e persistência mas quando lá chegares, ao fim de uns 15 ou 20 anos talvez, vais olhar para trás e perceber que valeu a pena. Nunca te esqueças que o início é sempre mais lento e que à medida que o tempo passa, os resultados vão sendo cada vez melhores e maiores.
Se leste isto e te fez sentido ires atrás deste objetivo, então desejo-te a maior das forças e sucessos. No que puder ajudar, cá estarei, como sempre :)
Comments